ESG e Mudanças Climáticas #2: A dimensão de um problema invisível, mas sentido: a mudança do clima

ESG e Mudanças Climáticas #2: A dimensão de um problema invisível, mas sentido: a mudança do clima

Imagem: Divulgação #2 |  Por Isabelle Carvalho Gonçalves, Advogada dedicada ao Direito Ambiental com um viés internacional aos aspectos ESG (Environmental, Social e Governance) e Mudanças Climáticas. É colunista do nosso editorial AMBIENTAL MERCANTIL ESG. 



Março de 2023 - O sexto relatório (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), texto científico mais importante sobre as mudanças do clima, prevê, que mesmo com consciência da dimensão do problema e da urgência da ação, as emissões antropogênicas mundiais de gases de efeito estufa foram de 59 bilhões de toneladas em 2019, um valor 12% maior do que em 2010 e 54% maior do que em 1990.



Já era notório e o relatório veio para assegurar que as políticas públicas sobre o clima adotadas no mundo até 2020 levarão a Terra a um aquecimento de 3,20ºC, mais do que o dobro do limite definindo no Acordo de Paris.



No entanto, apesar do amplo consenso científico sobre a influência humana nas mudanças do clima (antropoceno) e dos riscos (hoje realidade) dos impactos climáticos não só para populações vulneráveis, e apesar do amparado acordo internacional e das diversas tentativas da comunidade internacional, o progresso em direção a soluções eficazes tem sido moroso.



Em julho de 2021, o próprio Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres recordou que a ciência indica que para cumprir a meta definida no Acordo de Paris, a neutralidade de carbono deve ser alcançada antes de 2050 e a redução das emissões de gases de efeito estufa deve ser em 45% até 2030 em relação aos níveis de 2010, destacando que "não há caminho para esse objetivo sem a liderança do G20”.



Diante desse cenário, inegável que a crise climática demanda cooperação entre os agentes internacionais em diversos níveis e alcances.

Isso porque, trata-se de um problema de bem comum, com um impacto global, bem como impõe desafios para a compreensão da governança, seja em razão de observar as alterações pelo antropoceno, seja porque inevitavelmente essa crescente instabilidade do planeta pressiona por alterações na organização social, política e comportamental.



O fenômeno das mudanças climáticas é marcado por alguns entraves que ultrapassam as dimensões jurídicas.

Isso se dá diante da dificuldade em dimensionar seu alcance, devido a fatores de incertezas científicas, dificultando, ainda mais, a construção de um regime ou instrumento jurídico capaz de enfrentar as adversidades dos efeitos das mudanças climáticas.



No entanto, sob uma ótica mais realista, destaca-se a meta coletiva de financiamento climático apresentada, em setembro do ano passado, pelo bloco político ABU (Argentina, Brasil e Uruguai).



Ainda, sob esta ótica, recentemente, em 20 de março, o IPCC publicou um relatório do resumo final do conteúdo dos seis últimos relatórios em que concluem que ainda há possibilidade para a ação global de modo estabilizar a emissão de GEE. De toda forma, o relatório reitera a necessidade de ações urgentes e mais ambiciosas.



Principais conclusões do relatório:



- O uso de combustíveis fósseis está impulsionando agressivamente aquecimento global;

- A temperatura global da superfície aumentou mais rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos durante os últimos 2000 anos;

- Para manter o aquecimento em 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, as emissões de GEE devem ser reduzidas em todos os setores;

- Para isso, segundo os atuais cálculos do IPCC, necessário reduzir as emissões de GEE globais pela metade até 2030 e até 99% até 2050;

- Os níveis atuais de financiamento para o clima são altamente inadequados, e ainda direcionados para as energias fósseis (não renováveis);

- A mudança do clima reduziu a segurança alimentar e afetou a segurança da água;

- Os eventos de calor extremo estão aumentando as taxas de mortalidade e doenças;

- O planejamento e a implementação da adaptação não estão sendo suficientes;

- Agora é o momento de tomar medidas para que o mundo seja sustentável e igualitário;

- Um futuro resiliente e habitável ainda está é possível, mas as ações tomadas nesta década para produzir redução de emissões representam uma janela rapidamente estreita para a humanidade limitar o aquecimento a 1,5°C com mínimo ou nenhum excesso.

Sobre a Colunista



Foto: Adv. Isabelle Carvalho Gonçalves

Isabelle Carvalho Gonçalves é Advogada, mestranda em ciências jurídico ambientais pela Universidade de Lisboa e especialista em direito constitucional.



Estreia como colunista e colaboradora do editorial AMBIENTAL MERCANTIL ESG com sua coluna exclusiva “ESG E MUDANÇAS CLIMÁTICAS”. Contato via Linkedin.



Autora da TRILOGIA ESG: ORIGEM | PRESENTE | FUTURO



Todas as publicações futuras de Isabelle Carvalho Gonçalves podem ser acessadas neste link exclusivo:



ESG E MUDANÇAS CLIMÁTICAS POR ISABELLE CARVALHO GONÇALVES

Referências

IPCC, Climate Change 2022: Mitigation of Climate Change. Disponível em: https://report.ipcc.ch/ar6wg3/pdf/IPCC_AR6_WGIII_FinalDraft_FullReport.pdf. Acesso em: 12 de março de 2023.



IPCC, Climate Change 2022: Mitigation of Climate Change. Disponível em: https://report.ipcc.ch/ar6wg3/pdf/IPCC_AR6_WGIII_FinalDraft_FullReport.pdf. Acesso em: 12 de março de 2023.



NAÇÕES UNIDAS. Sem o G20, a meta de 1,5ºC do Acordo de Paris não será alcançada, afirma secretário-geral. 2021. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/137479-sem-o-g20-meta-de15oc-do-acordo-de-paris-nao-sera-alcancada-afirma-secretario-geral. Acesso em: 10 de março de 2022.



Fonte: IPCC: ações urgentes contra mudanças climáticas ainda podem garantir ‘futuro habitável’ na Terra | Meio Ambiente | G1 (globo.com)



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Crédito:
AMBIENTAL MERCANTIL ESG | Por Isabelle Carvalho Gonçalves, colunista e colaboradora


https://noticias.ambientalmercantil.com/31/03/2023/esg-e-mudancas-climaticas-2-a-dimensao-de-um-problema-invisivel-mas-sentido-a-mudanca-do-clima/